terça-feira, 24 de março de 2009

Programa Freestyle Entrevista: Tuchê MC!

P.F: Quem é o Tuchê Mc? Por que “Tuchê?”

Tuchê: Tuchê é um cara normal de 20 anos de idade morador de Diadema, que está sempre pirando com os fones no ouvido, gastando quase toda sua grana em chá gelado e vinis pelos sebos por ai. O nome “Tuchê” vem de um golpe do “Chang” (personagem do jogo de fliperama The King Of Fighters) e sou chamado assim desde quando tinha 9 anos, mal sabia o que era rap e a vida era só jogar bola na rua e vender latinhas com areia dentro pra ficar mais pesada pra comprar fichas e jogar The King.

P.F: Fale um pouco sobre seu envolvimento com o Hip Hop, como surgiu o interesse e porque escolheu ser um MC?

Tuchê: Meu envolvimento com Rap, começou por volta de 97 nas primeiras séries ainda da escola no fundão da sala sempre tinha uma rodinha cantando sons do Racionais MC’s, e claro eu tava la no meio logo de cara quando escutei a primeira vez eu nem fazia idéia do que era aquele estilo de música e tal, mas o olho já brilhava e o coração acelerava pois praticamente narrava tudo que acontecia ao meu redor, algum tempo depois eu já fazia parte da turma que tomava bronca por querer ficar cantando rap durante as aulas, passado alguns anos percebi que aquilo era muito mais que música e que também poderia me ajudar nas matérias escolares, foi aí que começaram a aparecer as primeiras características de que eu era um MC, comecei a gostar muito de português e sempre que tinha redação eu escrevia algo que parecia com rap e tal... Eu fui crescendo e conhecendo novos amigos que faziam rap e sempre falavam “hey porque você não escreve também?”. Aí em uma dessas que eu falei: “É né? Porque não?” Então por volta de 2002 escrevi minha primeira letra, fui conhecendo novos lugares, livros, histórias e pessoas entre elas dançarinos (Break Girls e Break Boys), escritores de Graffiti, DJs e MCs. Cada historia, pessoa e elemento novo que eu conhecia me mostravam que o que eu já tava vivendo era muito mais do que RAP foi então que tomei consciência que faço Rap mas vivo HIP HOP. Alguns anos depois conheci o G. Box em uma barraquinha de camelô onde eu trabalhava no centro de Diadema, eu já o conhecia musicalmente por causa da faixa “Freestyle” do Cd do Slim “Financeiramente Pobre”, viramos grandes amigos e ele me apresentou o “Centro Cultural Canhema” também conhecido mundialmente como “Casa Do Hip Hop de Diadema” fiquei 3 anos sendo aluno das oficinas de MCs da casa recebendo conselhos importantes de pessoas como: G. Box, Renato De Souza, King Nino Brown (me ajudou muito no 5° Elemento), Nelson Triunfo (não, eu nunca fui B. Boy, mas pra quem não sabe o Nelsão também é MC então também peguei alguns conselhos com ele, não sou besta haha) e Slim Rimografia. Enfim... Creio que já nasci sendo MC graças a Deus percebi isso aprimorei meu talento e hoje em dia assim como no começo gosto mesmo que as coisas aconteçam naturalmente e tudo dentro do seu tempo.

P.F: Você ficou conhecido por muitos como um Mc de Freestyle e agora está preparando um disco com composições suas, conte mais sobre esse projeto:

Tuchê: Eu já tenho o projeto e idéias sobre o disco (Página Zero) desde as oficinas na casa do HIP HOP, isso teve inicio mais ou menos por volta de 2005 e 2006. De início o titulo do álbum era “Demo Da Demonstração”, mas algumas idéias já mudaram e agora o titulo é “Página Zero”. Está sendo gravado e mixado por DJ Caíque na “360 Graus Records” o disco contará com 15 faixas, tendo como Beatmakers: Tuchê, Dj Caíque, Munhoz, Dario, Nelsentimentum, Thew Franklin e Nave. Espero concluir todo o processo de áudio, vídeos e imagens até o final desse ano de 2009.

P.F: Alguns MCs começaram fazendo improviso e também partiram para o processo do disco solo, como é essa transição de passar a fazer músicas escritas após um período de músicas improvisadas?

Tuchê: Pra mim está sendo normal porque eu comecei escrevendo e só depois comecei a me envolver mais com o lance de rimas de improviso, inclusive várias vezes voltava das Batalhas Da Sta. Cruz ou das Sessões de Freestyle na Galeria Olido escrevendo sobre o sentimento das sessões e das coisas engraçadas ou ruins que aconteciam no rolê, um lance muito interessante que tá rolando no processo de transição do freestyle pro disco, são as viagens e ligações de SP pra Curitiba não só para rever os amigos e sim também pra trabalhar as letras junto com os beatmakers de lá, digo que isso é um dos lances mais interessantes porque a gente mantém contato por internet mesmo, mas nada melhor do quer ver as duas partes da arte ali no mesmo espaço e trabalhando junto.

P.F: Após lançar seu disco você pretende continuar a fazer Freestyle?

Tuchê: Sim, tem certas coisas que não tem como parar de fazer, no momento eu já não to batalhando freqüentemente como antigamente pra não perder o foco do disco, mas sempre que tem uma sessão de freestyle em festas, calçadas por ai, metro, busão, enfim, onde tem um amigo pra rimar ou alguém pra ouvir a gente tá improvisando... Quero manter essa chama acesa depois do disco sim... Essa magia nunca acaba pra mim a própria vida já é um freestyle.

P.F: Existe diferença entre o MC que faz Freestyle e o MC que apenas compõe suas músicas?

Tuchê: Não digo diferença, mas sim uma vantagem pro MC que faz freestyle, por exemplo se caso você esqueça uma letra sua no show, se você faz freestyle você já tem uma saída boa ali pra disfarçar o esquecimento, mas claro sempre temos que trabalhar bem pra que nunca role de esquecer uma letra no show.

P.F: Atualmente como você vê essa cena do Freestyle dentro da cultura Hip Hop com eventos específicos para MC's que usam a técnica de improvisar?

Tuchê: Acho bacana a cena hoje em dia, tem bastante espaço pra MCs que gostam de batalhas de freestyle, fico feliz em ainda ver viva a Rinha Dos MC’s e as Batalhas Da Sta Cruz aqui em São Paulo, já vi algumas batalhas de MC’s em Curitiba ao vivo e sempre quando posso tô conferindo também umas batalhas que rolam em outros lugares através do Youtube.

P.F: Hoje, a quantidade de Mcs no Hip Hop nacional é considerada grande, em sua opinião isso é um fator positivo ou negativo? Levando em conta que o Hip Hop carece de pessoas em outros elementos ou atividades relacionadas à própria cultura...

Tuchê: Acho boa a quantidade de MC’s na cena nacional, quanto mais pessoas pra somar é melhor, mas acho que ainda falta muita qualidade nos sons e parece que a parada de ser DIFÍCIL viver de rap acaba limitando certos MCs que tem muito potencial a se jogarem de cabeça nesse mundo, claro, é muito arriscado tentar viver de rap, mas valorizar e fazer valer o seu dom é a melhor coisa que tem, seja pra você e também pra toda cultura afinal todo público espera uma música com qualidade. A carência de mais pessoas ligadas a outros elementos e atividades só me mostra a falta de resistência das mesmas e também o quanto o jogo da mídia é sujo (no mal sentido mesmo) no meu modo de ver parece que a regra é não deixar a música que traga algum tipo de mudança ou positividade chegar até as pessoas que precisam dela, mas isso só motiva mais quem ama essa cultura a correr com as próprias pernas tenho muita fé que naturalmente tudo isso vai mudar, acredito muito na nossa geração.

P.F: O que é preciso pra ser um MC?

Tuchê: Ser verdadeiro com você mesmo, essa é a essência!

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